Clipping 01 de agosto

 

MP quer investigar BC por autorizar venda do banco de Silvio Santos

Banco Central autorizou compra de uma fatia do Banco Panamericano pela Caixa Econômica Federal por R$ 740 milhões, meses antes de o Panamericano quebrar por fraudes financeiras

Fonte: O Estado de S. Paulo

O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) pediu a abertura de uma fiscalização sobre o Banco Central por autorizar, entre 2009 e 2010, a compra de uma fatia do Banco Panamericano pela Caixa Econômica Federal (CEF).

A instituição pública pagou R$ 740 milhões no negócio meses antes de o Panamericano quebrar, devido a fraudes financeiras que abriram um rombo de R$ 4,3 bilhões em seu patrimônio.

O procurador Júlio Marcelo de Oliveira sustenta em representação enviada ao ministro do TCU José Múcio Monteiro que, com sinal verde do Banco Central, a Caixa, por meio de uma de suas subsidiárias, fez com o banco de Silvio Santos uma transação “ruinosa e ilegal”.

Caberá à corte, com base nos elementos apresentados pelo Ministério Público e em avaliação de sua área técnica, decidir se abre ou não uma auditoria para apurar a regularidade dos atos praticados pelo Bacen.

“Trata-se da compra de uma instituição falida por um banco público, que trouxe benefícios exclusivos para o antigo grupo empresarial controlador e apenas prejuízos vultosos para a Caixa e para a sociedade brasileira, sem nenhum interesse público a ser atendido e sem a adoção dos procedimentos acautelatórios básicos que qualquer outra instituição financeira adotaria”, afirma o procurador na denúncia.

O Grupo Silvio Santos fechou contrato em dezembro de 2009 que previa a venda de 49% do capital votante e de 21,9% das ações preferenciais do Panamericano para a Caixapar, subsidiária da Caixa. Naquele ano, a instituição pública pagou R$ 517,4 milhões a título de sinal. Em julho de 2010, transferiu os R$ 221,7 milhões restantes dias após o Banco Central dar uma autorização “preliminar” para o negócio. Mesmo com o pagamento integral, a Caixa só passou a integrar o grupo de controle do Panamericano mais de três meses depois.

O Banco Central alega que só detectou fraudes no Panamericano em outubro de 2010, ou seja, após a transação ser concluída. O MP sustenta, contudo, não ser possível atestar que isso é verdade sem uma investigação aprofundada, pois fiscalização sobre eventuais irregularidades no banco de Silvio Santos já estava em curso no Bacen quando o processo de compra foi avaliado e aprovado. Além disso, já havia fortes indícios no mercado de fragilidades do banco nas suas operações interbancárias.

“O procedimento de fiscalização ocorreu paralelamente. Por que os primeiros indícios de fraude não foram imediatamente comunicados ao setor responsável por avaliar a aquisição? Será que a autorização preliminar foi emitida justamente porque se descobriram graves indícios de irregularidades e era politicamente importante que o pagamento se consumasse logo para criar-se um fato consumado?”, questiona, na representação, o procurador.

Segundo ele, o negócio era atípico e os valores envolvidos, muito altos. Por isso, o Banco Central deveria ter iniciado uma investigação já em dezembro de 2009, quando o contrato foi firmado. Na prática, a Caixa fez investimento em um banco que tinha passivo a descoberto quatro vezes superior. Em 2011, após a descoberta das fraudes, o BTG Pactual adquiriu participação com recursos do Fundo Garantidor de Crédito.

Para o MP, cabe ao TCU avaliar com profundidade todos os atos do Banco Central que viabilizaram o negócio. A representação pede ainda que sejam esclarecidos outros aspectos do caso, como o motivo de o Bacen não ter nomeado dirigentes para assumir o Panamericano. Esse procedimento foi adotado em 2013 com o Banco Cruzeiro do Sul, após a constatação de que regras do sistema financeiro estavam sendo descumpridas.

Num processo de acompanhamento já julgado, o TCU isentou em junho ex-gestores da Caixa de multas por supostas irregularidades na compra de participação no Panamericano. O MP recorreu no último dia 18 pedindo a aplicação das penalidades no valor máximo, além da abertura de processo para apurar quais providências foram tomadas pelo banco público para reaver perdas no negócio.

Em 2012, ao avaliar outros aspectos da atuação do Banco Central no caso, o tribunal entendeu que não houve irregularidades. Procurado pelo Estado, o Bacen informou em nota que naquela ocasião já teve sua atuação julgada pelo TCU, “que a considerou legal e regular, relativamente aos trabalhos de fiscalização e de reorganização societária no Banco Panamericano”. “Tal como em relação à primeira representação (do MP), a autarquia está à disposição do TCU para prestar todos os esclarecimentos”, acrescentou.

 

 

 

 

Sem Barbosa, Supremo retoma atividades após recesso

Ricardo Lewandowski preside sessão interinamente e escolha do novo presidente deve ficar para próxima semana

Autora: Beatriz Bulla
Fonte: O Estado de S. Paulo

O Supremo Tribunal Federal (STF) volta do recesso nesta sexta-feira, já sem a presença do ministro Joaquim Barbosa. A aposentadoria do então presidente da Corte foi publicada no Diário Oficial nessa quinta. A escolha do sucessor para o cargo pode ser adiada para a próxima semana.

A expectativa era de que os ministros realizassem nesta tarde a eleição do novo presidente e vice-presidente. No entanto, a deliberação poderá ser no sentido de postergar a escolha.

Antes de deixar o cargo, ainda em seu período de férias, Barbosa marcou para esta sexta a realização da eleição. Nos bastidores, alguns ministros criticam a medida. Não é praxe realizar eleições logo na volta do recesso, avaliam fontes da Corte.

Além disso, o regimento interno do STF estabelece prazo de duas sessões ordinárias de vacância entre a saída do presidente e a escolha do novo líder. Neste caso, a eleição seria marcada para o dia 13 de agosto.

A eleição pode não acontecer também por ausência do quórum mínimo de oito ministros para a realização da eleição. O ministro Luís Roberto Barroso, por exemplo, já avisou que não deverá comparecer, pois irá proferir palestra em uma faculdade no Rio de Janeiro. Caso haja quórum, mesmo assim deve ser colocada em votação entre os ministros presentes hoje a decisão sobre a realização da eleição ou não.

Desde o dia 14, quando Joaquim Barbosa saiu de férias, a presidência em exercício ficou com o vice-presidente, Ricardo Lewandowski, que deve ser eleito pelos pares para a função. Lewandowski é o ministro mais antigo do STF que ainda não ficou à frente da Corte. Também pelo critério de antiguidade, a ministra Cármen Lúcia deve ser eleita vice-presidente da Casa.

Na pauta de reinício das sessões, Lewandowski já incluiu 101 processos. Essa lista inclui recursos de agravo regimental e embargos declaratórios que estavam obstruindo a pauta.

 

 

 

 

Maior templo do País tem público suprapartidário

Evento da Igreja Universal põe Edir Macedo ao lado de Dilma Rousseff, Geraldo Alckimin, Fernando Haddad e fiéis da igreja

Autores: Ana Fernandes e Valmar Hupsel Filho
Fonte: O Estado de S. Paulo

Fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, o bispo Edir Macedo ficou rodeado de autoridades na última quinta-feira no culto de inauguração do Templo de Salomão, maior templo religioso construído no Brasil, no centro de São Paulo. Durante cerca de três horas, o local foi a maior concentração “ecumênica” de políticos do dia.

Ao lado de Edir Macedo ficou a presidente Dilma Rousseff, como mostraram imagens exibidas em um telão fora do templo – os jornalistas não puderam entrar no local e foram colocados em uma área reservada, distante do acesso das autoridades. Antes da cerimônia, houve ao menos três cortes parciais de energia na área externa.

Dilma estava com seu vice, Michel Temer, e os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral). Com 1,8 milhão de fiéis, a Universal apoia a petista, a exemplo de 2010. A coligação de Dilma inclui o PRB, cujo presidente, Marcos Pereira, é bispo licenciado da Universal e homem de confiança de Macedo.

Em São Paulo, o PRB apoia a reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB), presente ao local, assim como o prefeito Fernando Haddad (PT) e seu antecessor, Gilberto Kassab (PSD), cuja gestão autorizou a construção do templo. Dois ministros do Supremo Tribunal Federal – Marco Aurélio Mello e Ricardo Lewandowski, que assume hoje a presidência da Corte – também estavam lá. No culto, Edir Macedo disse aos fiéis presentes que “o povo está cansado dos fracassos na saúde, dos fracassos na segurança, em todos os sentidos”.

Após a cerimônia, segundo a equipe da Presidência, Dilma fez um tour pelo templo ao lado do bispo e foi embora, sem falar com os jornalistas.

 

 

 

 

Aécio vai lançar campanha contra votos nulos e abstenções

Ideia do candidato do PSDB é forçar segundo turno nas eleições de outubro impedindo reeleição de Dilma Rousseff no primeiro pleito

Autora: Débora Bergamasco
Fonte: O Estado de S. Paulo

O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves (PSDB), vai anunciar na semana que vem sua adesão ao movimento #VempraUrna, uma campanha oficial do Tribunal Superior Eleitoral. O comando da candidatura do tucano avalia que as altas taxas de intenções de votos nulos e brancos nas pesquisas e as abstenções podem favorecer a reeleição da presidente Dilma Rousseff no primeiro turno.

Em um vídeo que será veiculado nas redes sociais de Aécio, o candidato vai comunicar seu apoio à campanha do TSE. Ao mesmo tempo, o PSDB passará a divulgar gravações produzidas pela equipe de marketing da candidatura tucana que fazem alusão à campanha oficial do tribunal. A peça partidária, porém, inclui sutilmente a ideia de “mudança”, jamais contemplada na publicidade oficial da Justiça Eleitoral.

Em um dos vídeos, o jingle diz: “Vem pra urna pra fazer a diferença, que mudança não acontece com indiferença” e “vem, Brasil, que esse país é cheio de beleza, que a gente não merece ter tristeza”.

O objetivo é tentar convencer o eleitor que está descrente da política. Conforme a mais recente pesquisa Ibope sobre a corrida presidencial, 25% dos eleitores não têm candidato ou pretendem votar nulo ou em branco. Em julho de 2010, também a pouco mais de três meses das eleições, essa taxa era bem menor, de 19%, de acordo com levantamento do mesmo instituto.

Desconhecimento. Tucanos atribuem o fato ao desinteresse por eleição especialmente dos jovens entre 16 e 24 anos e à chamada taxa de desconhecimento dos presidenciáveis de oposição. Se houver uma redução das taxas de abstenção e de votos nulos e brancos, a campanha do PSDB acredita que Aécio e outros oposicionistas serão os beneficiados, reforçando a possibilidade de segundo turno na disputa presidencial.

No cenário de um 2.º turno entre Dilma e o tucano da mais recente pesquisa do Ibope, Aécio aparece com 33% das intenções de voto. A presidente tem 41%. No cenário do 1.º turno, Dilma tem 38% contra 22% do tucano.

No material produzido pela equipe do presidenciável do PSDB não haverá nenhuma referência a candidatos ou a partidos políticos, dando um caráter suprapartidário.
Aécio não vai aparecer nos materiais de divulgação e sua participação ficará restrita ao vídeo em que vai dizer publicamente que apoia a ação.

Estão sendo produzidos videoclipes em ritmo de rock, samba, forró e xote. Além de jingle, cartoon, descanso de tela, template, panfletos e outros materiais gráficos, que serão distribuídos por militantes tucanos, entre blogueiros, nas redes do partido e para quem mais quiser ajudar a divulgar a ideia.

A abstenção é outro fator determinante para que o candidato concentre o esforço de seus marqueteiros nesta ação eleitoral. Em 1998, o índice foi de 21,5%. No pleito de 2002, foi de 17,7%. Em 2006 o número atingiu 16,7%. E em 2010 a taxa de faltosos voltou a crescer, atingindo 18,1%.

Rede social. Os vídeos não deverão ser veiculados no programa eleitoral gratuito de Aécio no rádio e na TV. A aposta é na divulgação por meio da página do Facebook da campanha. A página do candidato na rede social acaba de atingir 1 milhão de seguidores. O número foi comemorado pelo marketing do PSDB, mas internamente admite-se que a plataforma ainda está longe de obter protagonismo na campanha, pois o Brasil possui 142,8 milhões de eleitores, segundo o TSE.

 

 

 

 

Apoio a Dilma ficou abaixo de 50% na Câmara

Levantamento sobre votações no Congresso na atual legislatura mostra que petista só teve apoio de mais da metade dos deputados em seu primeiro ano de governo. Parlamentares foram mais fiéis a Lula

Fonte: Congresso em Foco

O apoio ao governo da presidenta Dilma Rousseff (PT) na Câmara dos Deputados ficou abaixo de 50% desde o segundo ano de mandato da petista. De fevereiro de 2011 a julho de 2014, em média, a adesão dos deputados à gestão da presidenta foi de 48,24%. O resultado é inferior às taxas médias do ex-presidente Lula (PT) – 55,75% no primeiro mandato e 51,18% no segundo. Os dados são da consultoria Arko Advice.

Sucessora e afilhada política de Lula e candidata à reeleição, Dilma só teve o apoio de mais da metade dos deputados no primeiro ano de mandato. Em 2011, 54,7% dos integrantes da Casa votaram como o governo queria.

“O resultado [de Dilma] pode ser considerado modesto, considerando que o tamanho de sua base no Legislativo ficou praticamente o mesmo em termos numéricos em relação à gestão de Lula e que não houve votação de reformas constitucionais”, afirmam Murillo de Aragão e Cristiano Noronha, autores do estudo. Eles consideram que o primeiro ano de mandato, em geral, é um período de “lua de mel com o Parlamento”.

No levantamento sobre o comportamento partidário durante o governo Dilma, a consultoria analisou 337 votações nominais e abertas que aconteceram no Congresso Nacional, sendo 264 na Câmara e 73 no Senado. Na primeira Casa, o governo foi derrotado em 32 votações e na segunda, em apenas três.

O cientista político Cristiano Noronha observa que, em geral, atritos entre um presidente da República e o Congresso estão relacionados à liberação de emendas apresentadas pelos parlamentares ao Orçamento da União, à distribuição de cargos e à falta de diálogo com o Legislativo. Segundo ele, Dilma pecou mais por não estabelecer um diálogo adequado com os congressistas e até por não dialogar.

O PT foi o partido mais leal ao governo entre 2011 e o primeiro semestre deste ano, com índice de 67,9%. No entanto, o apoio dos deputados petistas foi maior na gestão de Lula, com taxas superiores a 70%. “Em relação a isso, vale ressaltar que as ausências dos deputados do PT [nas votações] também foram consideradas.

Portanto, não é possível explicar o índice de fidelidade do PT dizendo que os deputados petistas votaram contra interesses do governo [Dilma]“, disse Noronha.

Em segundo lugar, o PCdoB tem o maior índice de fidelidade, com 63%, e é seguido pelo PDT, com 55,4%. O PMDB, que tem Michel Temer na vice-presidência da República, aparece com 53%. Entre os partidos da base aliada, o PR foi o mais infiel, com 47,7%.

Conforme o estudo, a oposição foi mais benevolente no primeiro mandato de Lula. Com Dilma na administração federal, o Psol foi a legenda de oposição que mais votou em sintonia com o governo (35,8%), seguido por PPS (21,1%), DEM (19,9%) e PSDB (17,9%).

A Arko indica ainda que os deputados da região Sul aparecem como os mais fiéis à gestão de Dilma, com percentual de adesão de 50,1%. Os mais infiéis, segundo o estudo, foram os da região Norte, com apoio de 45,6%.

Piauí, Distrito Federal e Bahia aparecem como as unidades da federação mais alinhadas ao Palácio do Planalto – a segundo e a terceira são governadas pelos petistas Agnelo Queiroz e Jaques Wagner. Os estados menos alinhados com o governo foram Rio Grande do Norte, Roraima e Goiás.
Senado

O cenário é mais favorável à presidenta Dilma Rousseff no Senado, onde ela tem uma base formada por 61 senadores. O apoio, em média, aos projetos de interesse do Executivo alcançou 57,1%, segundo a Arko. Lula obteve a média de 48,6% em seu segundo mandato.

A Arko observa que foram adiadas propostas polêmicas como a que muda o indexador da dívida dos estados e municípios com a União e a que trata do fim da guerra fiscal.

A legenda que aparece como a mais fiel ao governo é o PSB, que, em meados de 2013, deixou a base aliada para lançar a candidatura do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos à presidência da República. “Apesar de ter deixado a base, o partido aparece como o mais fiel porque o Senado, por exemplo, só apreciou matérias consensuais neste ano”, complementou Cristiano Noronha. Já o PT figura como o segundo mais fiel. E o PMDB, principal aliado dos petistas, como o mais infiel. O PSDB foi o partido oposicionista que mais votou contra os projetos de interesse do governo: 53,2%.

 

 

 

 

Quem é Cândido Peçanha

No livro “O nobre deputado”, personagem Cândido Peçanha serve para mostrar cenário em que membros de cúpulas partidárias e outros agentes estão envolvidos para conquistar mandatos a partir do desvio de dinheiro público

Autor: Marlon Reis
Fonte: Congresso em Foco

Cândido Peçanha — personagem principal do livro O nobre deputado (Leya) — é um deputado de terceiro mandato que conhece bem as regras do jogo. Tem uma base que inclui o apoio de 14 prefeitos, com quem mantém uma relação de negócios alimentada pelo fluxo de dinheiro público e privado. Quando se reporta aos municípios com os quais mantém negócios utiliza a expressão “prefeituras amigas”. Eles também tem sob seu domínio quatro entidades sem fins lucrativos, por meio dos quais canaliza verbas oriundas de emendas e convênios.

O deputado Peçanha é generoso na distribuição de emendas parlamentares, mas tem por praxe a cobrança de uma “taxa de retorno” de no mínimo 20%. Mas essa comissão pode aumentar, conforme a facilidade ou as necessidades circunstanciais. Não importa o tipo de obra ou serviço que deve ser custeado com aquela verba; sua parte fica reservada para ajudar a cobrir as despesas da próxima campanha.

Mas esse dinheiro não é suficiente, afinal concorrentes cada vez mais endinheirados estão “inflacionando” as eleições. Eles tentam invadir os redutos eleitorais de Cândido Peçanha com ofertas que atingem cifras capazes de impressionar até os mais experientes. Sim, todos os apoios obtidos pelo nosso parlamentar foram comprados. Às vezes ele perde uma base eleitoral para oponentes com campanhas mais ricas, mas acaba dando um jeito de compensar. Não falta prefeito ou presidente de associação disposto a vender sua base eleitoral.

Para robustecer suas finanças de campanha, Peçanha recorre aos amigos empreiteiros. É um “bate-pronto”. O financiamento de campanha é apenas um empréstimo de curto prazo e altíssima rentabilidade. Funciona assim: o deputado influencia a definição do orçamento para beneficiar prefeituras e instituições parceiras. Depois disso, licitações dirigidas cuidam de fazer chegar esse dinheiro aos cofres das empresas certas. Grande parte desse montante volta para o deputado benfeitor e tudo sempre termina bem.

O que você acaba de ler é o perfil de um personagem por meio do qual busco escancarar o universo que embala grande parte das campanhas dos deputados eleitos no Brasil. Escrevi O nobre deputado para expor uma realidade chocante, mas que está longe de ser surpreendente. Sabemos todos que nossas eleições são gravemente influenciadas pela compra do apoio político. Vence quem tem mais dinheiro. Essa é a regra demonstrada exaustivamente por pesquisas realizadas no Brasil por instituições acadêmicas daqui e do exterior.

Para escrever o livro, recorri ao uso de estratégias de pesquisa desenvolvidas para a elaboração da minha tese de doutorado. Fiz uso de entrevistas baseadas em questionários semi-estruturados para ouvir uma dezena de participantes diretos do cenário investigado, todos eles membros de cúpulas partidárias locais ou agentes de negociações ilícitas envolvendo a conquista de mandatos. Não são pessoas derrotadas. São pessoas vitoriosas que aprenderam a jogar segundo as regras em vigor.

Aprenderam com o sistema e se tornaram especialistas em vencer. E estão agindo agora mesmo enquanto transcorre mais um processo eleitoral.

Os relatos foram confrontados com muitas outras fontes de pesquisa até que eu pudesse construir o perfil de Cândido Peçanha. O nobre deputado foi, a partir daí, escrito em primeira pessoa a fim de que o leitor pudesse se aproximar da mente de alguém que faz do desvio a regra e que considera natural tudo o que se vê levado a fazer para não ser “cuspido” por esse universo singular. Peçanha não confia nas instituições. Segundo sua ótica, tudo se baseia numa disputa pelo poder. Tudo faz parte de um grande jogo de interesses em que o nosso protagonista não é um caso isolado, mas um player devidamente preparado para prevalecer num universo em que a liderança política foi aos poucos sendo substituída pela força nada glamorosa do dinheiro.

 

 

 

 

Exército de Israel anuncia fim de cessar-fogo em Gaza

Trégua humanitária começou às 8h locais e durou menos de seis horas.

O Exército de Israel anunciou nesta sexta-feira (1º) o fim do cessar-fogo que havia entrado em vigor às 8h locais (2h de Brasília) na Faixa de Gaza, sem muito sucesso, e anunciou que suas operações militares estavam em andamento no território, informou a Reuters.
O fim do cessar-fogo foi motivado, segundo o Exército israelense, pelo sequestro de um de seus soldados durante uma operação em túneis da fronteira entre a Faixa de Gaza e Israel.

Questionado em entrevista coletiva se o cessar-fogo havia sido cancelado, o tenente-coronel Peter Lerner, porta-voz das formas armadas, disse: “Sim. Estamos continuando com nossas atividades no solo”.

Duas horas depois da entrada em vigor do cessar-fogo, as sirenes voltaram a soar em Israel para avisar de um disparo de míssil perto de Rafah, e a artilharia israelense respondeu prontamente, evidenciando a crescente volatilidade da situação.

Após o anúncio israelense, as Nações Unidas pediram que os movimentos palestinos reafirmem seu comprometimento com a trégua.

Em combates nesta sexta, pelo menos 50 palestinos morreram, assim como dois israelenses.

Um palestino foi morto pelas forças israelenses durante confrontos na Cisjordânia, informaram fontes de segurança à AFP. Elas afirmaram que Tamer Smour, de 22 anos, foi baleado no peito na cidade de Tulkarem.

Soldado capturado
Segundo um porta-voz das Forças Armadas de Israel, dois soldados foram mortos e um capturado por militantes palestinos durante o confronto em Rafah, no sul da Faixa de Gaza.

“Forças operando para desmantelar um túnel foram atacadas. As indicações iniciais são de que um soldado foi sequestrado por terroristas durante a operação”, disse o tenente-coronel Peter Lerner. O militar foi identificado como o subtenente Hadar Doldin.

O sequestro de Doldin, de 23 anos, levou as forças armadas israelenses a declarar rompida, poucas horas depois do início, a trégua de 72 horas acertada com o movimento islamita Hamas.

Os militares israelenses disseram que, passados 90 minutos da entrada da trégua em vigor – enquanto famílias palestinas que fugiram de bairros transformados em campos de batalha começavam a caminhar para casa –, militantes atacaram soldados que rastreavam a região em busca de túneis no sul da Faixa de Gaza.

“De um ponto de acesso do túnel ou vários pontos, terroristas saíram da terra. Pelo menos um era um terrorista suicida, que se explodiu. Houve uma troca de tiros”, disse o tenente-coronel Peter Lerner, porta-voz militar. Dois soldados israelenses foram mortos.

Fumaça sobre prédios após ataque em Rafah (sul de Gaza), nesta sexta (1º). Segundo médicos, um bombardeio israelense deixou mortos na região após início de trégua humanitária nesta manhã. (Foto: Said Khatib/AFP)

Com o fim da trégua e anuncio do possível sequestro, o Egito, país mediador na guerra entre Israel e o Hamas, informou às autoridades palestinas que decidiu adiar as negociações previstas no Cairo. “Os egípcios contactaram a Jihad Islâmica e disseram que Israel lhes informou sobre a captura de um soldado”, afirmou Ziad al-Najal à AFP. “As negociações foram adiadas”, acrescentou.

Violação
O governo israelense acusou o movimento islamista Hamas e seus aliados de “violação flagrante” do cessar-fogo em Gaza.

O Hamas, entretanto, acusou Israel de violar o cessar-fogo. “A ocupação (Israel) violou o cessar-fogo. A Resistência palestina agiu em nome de seu direito a se defender (e) para colocar fim ao massacre de nosso povo”, declarou em um comunicado o porta-voz do Hamas, Fawzi Barhum.

Fontes médicas palestinas indicaram à AFP que ataques israelenses mataram ao menos 27 pessoas e feriram mais de 150 na região de Rafah, no sul da Faixa de Gaza.

Já a Reuters, citando o diretor do Ministério da Saúde de Gaza, Medhat Abbas, disse que mais de 50 pessoas foram mortas e 220 ficaram feridas nos bombardeios na região de Rafah.

Desde o dia 8 de julho, quando Israel iniciou seus ataques, os serviços de emergência da Faixa de Gaza já computaram 1.464 palestinos mortos e mais de 8.200 feridos, a ampla maioria civis.

No total, 61 militares morreram desde o início dos combates, em 8 de julho. Cinco mortes ocorreram nesta quinta, segundo o Exército.

Acordo
A “trégua humanitária incondicional” havia sido acordada entre Israel e o grupo palestino Hamas, informou a agência de notícias Reuters.

O comunicado assinado por Ban Ki-moon e John Kerry dizia que “forças em terra permanecerão em seus lugares” durante a trégua, o que sugere que os soldados israelenses não deixarão Gaza.

O secretário de Estado dos EUA também disse que o ministro egípcio de Relações Exteriores convidará ambas as partes para negociações “sérias” no Cairo e que os EUA enviarão uma delegação para lá.

Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), deverá nomear uma delegação para ir às negociações, e não estará presente.

Uma autoridade palestina na Faixa de Gaza, que pediu para não ser identificada, disse à AFP que uma delegação de negociadores palestinos seguirá na manhã desta sexta para o Cairo, após o início do cessar-fogo, “para discutir uma trégua e colocar as demandas de todas as facções palestinas sobre a mesa”.

O governo israelense também utilizou um tratado chamado “inventário de reservas de munição de guerra”, e solicitou aos EUA o envio, com urgência, de mais munição para as tropas. O custo da operação é de US$ 1 bilhão.